1.º caso - Menina de 3 anos de idade foi tocada em sua genitália, pelo tio, por debaixo de sua calcinha. Não entendia bem o que estava acontecendo. 2.º caso - Menino de 6 anos: primo mais velho pediu para brincar quando não tivesse ninguém em casa. “Pediu para me tocar no meu bumbum”. 3.º caso - Menina de 8 anos foi molestada por avô e isso persistiu até seus 12 anos. 4.º caso - Menino de 8 anos: amigo de seu pai fez propostas sexuais e pediu para que tocasse em seu pênis. São casos reais, e comumente chegam aos atendimentos psiquiátricos. Pacientes que hoje são jovens e adultos, e que por tanto tempo se calaram... e adoeceram. Estes abusos machucaram, trouxeram sentimentos de culpa, revolta. Na época não tinham a percepção de que algo errado acontecia. Havia o medo de contar. Medo de não serem compreendidos em uma sociedade adultocêntrica, onde os adultos mostram-se pouco disponíveis a escutar a criança e a acreditar nela.
“- Eu não entendia o que estava acontecendo! ”, relatou o paciente K.G. de 40 anos.
Das vítimas abusadas sexualmente, 58% estão em idade entre 0 e 12 anos incompletos. Estudos epidemiológicos apontam que há uma maior prevalência no sexo feminino (80,9%).
O abuso sexual pode ocorrer sob várias formas: por meio de práticas eróticas e sexuais impostas à criança ou ao adolescente com violência física, ameaça ou indução de sua vontade, podendo variar desde atos em que não se produz o contato sexual (voyerismo, exibicionismo, produção de fotos), até diferentes tipos de ações que incluem contato sexual sem ou com penetração.
O abusador e/ou a família se protege à custa de ameaças e barganhas feitas à criança abusada e a obriga a se calar. Nem sempre a mãe/pai acredita na criança, sentindo-se esta responsável pelo abuso. Tal postura faz parte da chamada Síndrome do Segredo ou Silêncio.
“Os segredos que enterramos vivos nunca morrem”. (Joyce Meyer)
Na Síndrome do Segredo, a criança se cala e leva seu silêncio por muitos anos e algumas chegam a nunca revelar o trauma. A culpa silenciada desencadeia transtornos em qualquer idade, como depressão, síndrome do pânico, ansiedade, pensamentos suicidas ou estresse pós-traumático, além de agressividade, impulsividade, delinquência, hiperatividade ou abuso de substâncias. Uma condição psiquiátrica fortemente associada a este trauma na infância é o transtorno de personalidade Borderline.
TRATAMENTO
Kaplan (1997) cita que, em primeiro lugar deve-se garantir a segurança e o bem-estar da criança e solicitar uma avaliação psiquiátrica cuidadosa; trabalhar temores, ansiedade e autoestima; em alguns casos isolados poderá lançar
mão de psicofármacos.
A psicoterapia também faz parte do processo. É importante que a criança confie no psicólogo, para que assim possa a vir revelar o abuso sem medo. “Dar às crianças permissão explícita
para comunicar sobre o abuso sexual significa dirigir-se abertamente a todas às possíveis ansiedades que podem motivar a criança a não revelar. ” (FURNISS, 1993, p. 44). Fazer abordagem familiar também é recomendável.
Há uma forte tendência social de não se falar sobre o tema. É um assunto que provoca desconforto e é passível de preconceitos.