O uso clínico da crioterapia remonta ao século XIX. Já antes de 1850, as soluções salinas eram resfriadas a temperaturas entre -18 usadas para tratar tumores na região °C e -24°C e da mama e colo do útero. A aplicação do frio extremo de maneira rápida resulta em dano celular por formação de cristais de gelo intra e extracelulares, assim como por colapso do suprimento sanguíneo no nível microvascular. O processo subsequente de “descongelamento” agrava a situação biológica local, levando à apoptose da periferia da zona de ablação com dano mitocondrial. O processo de crioablação utiliza temperaturas de -20°C a -60°C, dependendo do tecido aplicado. Deve durar pelo menos 10 minutos desde o equilíbrio entre a geração do frio e a sua dissipação na periferia da ablação. Em alguns tecidos é necessária mais do que uma aplicação.
A crioterapia da mama foi inicialmente usada para tratamento dos fibroadenomas sintomáticos. O tratamento resulta em uma redução significativa do volume e mais de 80% dos fibroadenomas não são mais palpáveis 1 ano após o tratamento. O uso da crioterapia no câncer de mama tem se estabelecido. No entanto, algumas características especiais devem ser levadas em consideração. Inicialmente, existe um risco significativamente elevado de ablação incompleta em tumores > 2cm, logo o tamanho é fator decisivo para a indicação.
Estudo recente fase II avaliou a eficácia da crioablação no câncer de mama. O endpoint primário foi a taxa de ablação completa do tumor, definida como ausência de neoplasia invasora ou “insitu” em exame patológico da lesão alvo. Oitenta e sete pacientes participaram do estudo. Média etária de 61.1 +- 9.3 anos, 98,9% de carcinoma ductal invasor, 82% graus I e II, 86% tumores luminais (menos agressivos), tamanho do tumor por ultrassom de 1.0 +- 0.4cm. Todos os pacientes foram tratados pelo mesmo algoritmo de crioablação específico. A cirurgia foi realizada dentro de 28 dias após o procedimento. O sucesso da crioablação (ausência de neoplasia no anatomopatológico) foi de 66 de 87 casos (75,9%; 90% CL 67.1-83.2). Quando a doença multifocal fora da zona de crioablação alvo não foi definida como uma falha do método, a taxa de sucesso foi de 92% (80/ 87 casos). Já para tumores < 1cm (16/ 87 pacientes), a taxa de sucesso foi de 100%. O estudo conclui que a presença de doença multifocal pode limitar a eficácia da crioablação como procedimento autônomo e, portanto, deve ser combinado com radioterapia adjuvante. Outros estudos com modificação da técnica são necessários para estabelecer o sucesso da crioablação como alternativa ao tratamento cirúrgico do câncer de mama.
Metanálise recente com 1.156 pacientes avaliou diversas formas de ablações radioguiadas para o câncer de mama (crioablação, radiofrequência, laser, micro-ondas e ultrassonografia de alta frequência e intensidade). A revisão demonstra que a taxa de sucesso técnico da crioablação foi de 93% (IC95% 81-98%) com uma taxa de complicações de apenas 2% (IC95% 1-7%). A crioablação demonstrou a melhor eficácia entre todas as técnicas.
O uso da crioablação poderá se tornar no futuro, para casos selecionados em lesões unifocais, inferiores a 1cm, após estudos de fase 3 adequadamente delineados, uma alternativa para a cirurgia conservadora. Jamais se tornará uma alternativa para a mastectomia, quimioterapia, radioterapia, imunoterapia ou hormonioterapia.