Também conhecido como transtorno de escoriação, dermatilomania ou escoriação neurótica (neurotic excoriation), o skin picking é caracterizado pelo comportamento compulsivo de produzir lesões na própria pele, como beliscar, espremer, “cutucar” ou até mes-mo se morder.
Cerca de 1,4% da população adulta apresenta o transtorno, que muitas vezes está associado a outros comportamentos obsessivos compulsivos, como a tricotilomania (arrancar os cabelos), onicofagia (roer unhas), transtornos depressivos e de personalidade, conflitos emocionais, entre outros, além de condições dermatológicas, como a acne.
O pico do quadro é detectado, geralmente, na adolescência, o que pode ter ligação à ansiedade encontrada na população desta faixa etária, quando prevalece a insegurança em vários setores da vida e ocorre o aparecimento de cravos e espinhas, principalmente no rosto. São focos principais desde a pele saudável até pequenas irregularidades e lesões preexistentes, como espinhas, calosidades ou “cascas” de feridas anteriores e que tenham fácil acesso, principalmente o rosto, braços e mãos, mas podem ocorrer em qualquer outra região.
O indivíduo utiliza, principalmente, as próprias unhas e dedos, porém existem casos nos quais são utilizados os dentes e objetos como pinças, alfinetes, facas e lixas, causando lesões mais profundas e infecções bacterianas locais. O paciente dedica várias horas por dia durante meses ou anos ao ato de se machucar. Tenta-se de todas as formas disfarçar os ferimentos ao cobrir as áreas lesionadas com roupas ou maquiagem.
Não se conhece ao certo as causas da dermatilomania, porém um transtorno de ansiedade parece ser um gatilho. Por ser um transtorno obsessivo-compulsivo, o ritual executado costuma ser uma maneira encontrada pela pessoa para diminuir a ansiedade e encontrar alívio. Há grande sofrimento e prejuízos em áreas importantes da vida e o paciente não consegue conter o impulso de causar dano a si mesmo e agravar as lesões em sua própria pele.
Mas, como identificar um paciente com este transtorno? O diagnóstico da dermatilomania é essencialmente clínico, após uma conversa franca e detalhada com seu médico. O paciente deve se enquadrar nos critérios diagnósticos trazidos pelo DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatística de Distúrbios Mentais, em sua 5ª edição), que são os seguintes:
■ Cutucação cutânea recorrente que resulta em lesões;
■ Repetidas tentativas mal sucedidas de interromper o comportamento;
■ Os sintomas causam angústia ou outro comprometimento clinicamente significativo;
■ Os sintomas não são causados por uma substância, condição médica ou dermatológica;
■ Os sintomas não são melhor explicados por outro distúrbio psiquiátrico.
Mas há tratamento? A resposta é SIM. O ideal é um tratamento multidisciplinar, entre médico psiquia¬tra, que lançará mão de medicamentos antidepressivos, ansiolíticos e/ou antipsicóticos), além de psicoterapia com técnicas cognitivas e comportamentais.
É importante também um acompanhamento com médico dermatologista, que avaliará as lesões provocadas na pele. Outras medidas podem auxiliar e impedir o hábito de se autolesionar, como o uso de luvas finas ou de esparadrapo nas pontas dos dedos, que dificultarão a prática.