A esteatose hepática ocorre devido ao acúmulo excessivo de lipídios (gordura) nos hepatócitos (células do fígado). O fígado é invadido por uma quantidade excessiva de gordura e o tecido hepático saudável é parcialmente substituído por áreas não-saudáveis de gordura. Nesses fígados, as células e os espaços do fígado são preenchidos por gordura, resultando em um fígado aumentado de volume e mais pesado.
Voltando ao caso humano, esse acúmulo de gordura pode ser decorrente de alterações do metabolismo ou uma resposta do fígado a uma agressão ao seu funcionamento. Ou seja, ela pode ser um sinal de uma doença própria do fígado (como hepatite C, doença alcoólica, etc.) ou seu acúmulo, decorrente de doenças metabólicas (diabetes, obesidade, síndrome metabólica, etc.) pode levar o fígado a ficar doente, levando à chamada doença hepática gordurosa não alcoólica - DHGNA.
Nessa doença, a maior parte das pessoas tem uma alteração estável no fígado que pode regredir desde que o problema metabólico seja sanado ou controlado. Até 30% deles, no entanto, podem apresentar evolução do quadro para uma doença chamada esteatoepatite (esteato = gordura; hepatite = inflamação do fígado).
Essa doença pode progredir lentamente e, ao longo de vários anos, levar à cirrose hepática e, menos frequentemente, ao câncer de fígado.
Quais são as causas de esteatose hepática?
» Doenças primárias do fígado: várias doenças hepáticas apresentam a esteatose como uma das manifestações da doença. É o caso das hepatites B e C, da deficiência de alfa1 antitripsina, doença de Wilson, doenças colestáticas e, principalmente, da doença hepática alcoólica. Sabe-se que 90% dos indivíduos que fazem uso abusivo de álcool apresentam esteatose no fígado. A evolução desses casos obedece a evolução da própria doença de base.
» Causas secundárias: nesses casos existe um fator que está gerando a esteatose e que, se removido, pode reverter o quadro. Isso é o que pode acontecer no hipotireoidismo não controlado, na exposição a agentes químicos (principalmente produtos petroquímicos, pesticidas), cirurgias intestinais e de bypass intestinal para tratamento da obesidade. Mas a causa secundária que mais tem crescido nesses anos é o uso abusivo de medicamentos, especialmente esteroides e anabolizantes, empregados por jovens em academias, além de vários medicamentos como tetraciclinas, cortisona, medicamentos empregados no combate do câncer e no tratamento das arritmias cardíacas, entre outros.
» Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica: representa a principal causa de esteatose (70% ou mais dos casos de esteatose) e está diretamente associada à obesidade, dislipidemia (alteração das gorduras do sangue, triglicérides e colesterol) e diabetes mellitus, sendo assim uma doença decorrente de alterações metabólicas. É frequente entre esses pacientes o diagnóstico de síndrome metabólica, presença de 3 ou mais dos seguintes fatores: circunferência de cintura elevada (obesidade visceral), alteração do açúcar em jejum (acima 99mg/dl), HDL colesterol baixo (<45mg/dL), elevação dos níveis de triglicérides (>150mg) e pressão alta. Como citado anteriormente, 20% a 30% deles podem evoluir para a esteatoepatite.
Diagnóstico
O diagnóstico de esteatose já pode ser feito na palpação do fígado pelo médico e confirmado pelo ultrassom de abdômen, exame simples e indolor. As imagens obtidas por um exame de ultrassonografia mostram um fígado mais brilhante e granulado. A palpação pode revelar um fígado já com doença mais avançada, o que também pode ser confirmado pelo próprio ultrassom ou, melhor ainda, por aparelhos que medem o grau de rigidez do fígado por método denominado elastometria (FibroScan ou Axplorer) que, a exemplo do ultrassom, são exames não invasivos.
Como é realizado o tratamento?
Nos casos de esteatose secundária, a eliminação ou correção do agente causal, quando possível, resolve o problema, enquanto o tratamento da doença hepática existente e a abstenção alcoólica podem eliminar a esteatose do fígado.
Na doença hepática gordurosa o tratamento é direcionado primeiramente para as modificações de hábitos de vida que envolvem dietas mais saudáveis e aumento da atividade física. Medicamentos sensibilizadores de insulina, antioxidantes e protetores celulares podem ser utilizados a cada caso, sob orientação médica.
Fonte: Sociedade Brasileira de Hepatologia