É uma malformação congênita, caracterizada pela abertura anormal do orifício por onde sai a urina, em diferentes locais na parte de baixo do pênis, ou mais raramente na bolsa escrotal. Na maioria dos casos é acompanhada por uma alteração da pele (prepúcio) que recobre a glande (cabeça do pênis), sendo que o prepúcio passa a ter o formato de um capuz.
Em alguns casos, ao ficar ereto, o pênis apresenta curvatura para baixo, em direção à bolsa escrotal. A incidência varia de 1: 300 a 500 nascimentos no sexo masculino. Dentre os meninos que nascem com hipospádia, 75% deles terão as formas distais, cujo tratamento cirúrgico é menos complicado, com maior probabilidade de sucesso na primeira cirurgia.
Em 12 a 20% dos pacientes temos antecedentes familiares de hipospádia. Aproximadamente 10% dos meninos com hipospádia também terão testículos fora da bolsa escrotal (criptorquidia), necessitando investigação diagnóstica e tratamento cirúrgico. Também é frequente a ocorrência de hérnias inguinais.
A hipospádia ocorre por múltiplos fatores, podendo ser genético e/ou hormonal. Admite-se uma etiologia multifatorial (fatores genéticos, hormonais e ambientais) dando origem à hipospádia.
Em resumo, durante o desenvolvimento embriológico houve uma fusão incompleta das pregas uretrais (falha na formação do tecido que dá origem ao meato uretral- orifício por onde sai a urina), ocorrendo abertura anormal da uretra ao longo da face ventral do pênis (ou seja, o orifício por onde sai a urina pode se localizar em vários locais na parte de baixo do pênis e até mesmo na bolsa escrotal, nos casos mais graves).
Se um casal teve um filho com hipospádia, a possibilidade de outro filho vir a ter hipospádia pode ser de até 30 vezes maior do que na população em geral.
A hipospádia não é apenas um problema estético. A deformidade peniana e a necessidade de urinar sentado podem gerar graves distúrbios psicológicos durante o processo de socialização dessa criança, além de causar desconforto e constrangimento para pacientes e seus familiares.
O tratamento começa logo após o nascimento, evitando a circuncisão, pois o prepúcio (pele que recobre o pênis) é essencial para a reconstrução do pênis. Em alguns casos selecionados há necessidade de tratamento hormonal pré-operatório. A tendência atual é operar preferencialmente entre os 6 meses e 1 ano de idade, diminuindo o risco de trauma emocional. A escolha da técnica mais adequada dependerá do tipo de hipospádia e da experiência do cirurgião, sempre visando os seguintes objetivos: * Micção normal em posição ortostática com jato urinário reto e uniforme (permitir que o paciente consiga urinar de pé); * Função sexual normal com ereção em linha reta e adequada, permitindo a capacidade reprodutora (permitir que o paciente tenha, no futuro, uma vida sexual normal, tendo a capacidade de reprodução); * Melhora estética da aparência do pênis.
Para prevenir o desenvolvimento de distúrbios psicológicos, a hipospádia deve estar corrigida antes da idade escolar. Após a cirurgia, nos casos de hipospádia mais simples (aquelas chamadas “distais”), as crianças terão alta no mesmo dia ou no dia seguinte da operação, não havendo a necessidade de sonda vesical.
Aquelas hipospádias mais complexas necessitam de internação hospitalar mais prolongada e uso de sonda vesical por um período que varia de 7 a 10 dias (em geral)
Os pacientes devem ser avaliados individualmente. A técnica que funcionou perfeitamente para um paciente, pode não ter efeito para outro. Alguns pacientes têm seu problema resolvido com apenas uma cirurgia, enquanto outros vão necessitar de inúmeros procedimentos cirúrgicos para correção completa do defeito.