Com o envelhecimento há um aumento na prevalência de doenças cardiovasculares. Paralelamente, ocorre redução progressiva na concentração sérica dos hormônios sexuais masculinos, sendo que nas faixas etárias mais avançadas a testosterona pode estar reduzida em mais de 50% dos indivíduos. Os receptores de androgênios distribuem-se amplamente nos tecidos vasculares, como a aorta, vascularização periférica e células cardíacas. Dessa forma, é possível supor que os hormônios sexuais exerçam influência no desenvolvimento das doenças cardiovasculares.
As concentrações séricas de hormônio luteinizante (LH) e hormônio folículo estimulante (FSH) se elevam com o avançar da idade, o que demonstra declínio da atividade gonadal (testículos e ovários). Dentre os hormônios que sofrem alterações com o envelhecimento, deve-se enfatizar a diminuição das frações isoladas de testosterona livre e total. Após os 30 anos, a concentração sérica de testosterona apresenta redução gradual e progressiva.
Outros fatores, como o genético, o tabagismo, a obesidade e o alcoolismo, podem acelerar o declínio da testosterona. O coração é um músculo, e como todo músculo, a testosterona tem ação revigorante. O efeito anabólico do andrógeno no músculo esquelético é também evidente no coração. A relação da testosterona com a função cardíaca foi observada em estudo experimental com ratos gonadectomizados (testículos foram retirados). Após esse procedimento, houve redução importante dos níveis de testosterona e se observou diminuição da massa muscular corporal e do peso do coração, além de uma significante redução do bombeamento cardíaco, da pressão arterial sistólica, da fração de ejeção e do consumo de oxigênio pelas células do coração.
A alteração da função cardíaca foi atribuída à deficiência de testosterona. A resposta de cultura de células do coração em contato com testosterona foi a hipertrofia das células musculares mediada por um receptor específico de andrógeno. Outro estudo mostrou que a administração por três meses de testosterona em ratos leva a um melhor trabalho cardíaco sem induzir danos às estruturas do coração. Num estudo conduzido no INCOR em São Paulo, 110 pacientes com insuficiência cardíaca sintomática foram internados, sendo que 66 pacientes tinham baixos níveis de testosterona e 44 pacientes tinham níveis normais.
Ao final, os autores concluíram que baixos níveis de testosterona constituem um fator de risco independente para reinternação hospitalar no prazo de 90 dias e para aumento de mortalidade em pacientes com insuficiência cardíaca. Isso demonstra que o coração, assim como qualquer músculo no corpo, possui uma enorme quantidade de receptores para testosterona.
Conclusão:
1) A testosterona é essencial para a libido e a função sexual, mas também desempenha um papel crucial no humor, energia, composição corporal e saúde cardiovascular.
2) A terapia de reposição de testosterona pode ser realizada após a devida comprovação de deficiência através da avalição médica e exames laboratoriais.
3) Nem todas as pessoas podem realizar a terapia de reposição de testosterona. Só seu médico
pode avaliar a necessidade e a forma de reposição.
Referências:
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