Muito se falou na mídia sobre o risco de trombose associado ao uso das pílulas anticoncepcionais, principalmente após o relato de uma jovem no facebook que sofreu trombose venosa cerebral.
O que deve ser esclarecido à população é que realmente o uso de anticoncepcional hormonal combinados, as famosas pílulas, está relacionado sim com o aumento do risco de trombose e por esse motivo a prescrição do medicamento só deve ser feita após anamnese e conhecimento dos antecedentes pessoais e familiares, além de avaliação dos riscos e benefícios e possíveis contraindicações ao uso da medicação através de avaliação médica. No entanto, mesmo que tenhamos conhecimento sobre esse potencial trombogênico, não se faz necessário a realização de exames laboratoriais complementares para estratificar o risco de trombose como rotina ginecológica.
Por mais que exista um aumento do risco, os exames para rastreio de trombofilias não são adequados, já que essas doenças são raras e o exame tem um alto custo. E mesmo que o teste venha negativo, isso não significa que a paciente está isenta de riscos, portanto quando se fala em custo x benefício, os exames de rastreio não se mostram úteis.
Outro ponto importante nessa discussão é que não existe um anticoncepcional mais trombogênico que o outro. Todos os anticoncepcionais orais combinados são potencialmente trombogênicos, podendo provocar desequilíbrios na cascata de coagulação. Porém, acredita-se que nos casos em que houve a trombose, provavelmente a paciente teve uma somatória de fatores de risco e acabou tendo um ou mais fatores associados.
Outras causas potencialmente trombogênicas são o tabagismo, sendo que o cigarro é uma contraindicação ao uso de anticoncepcional hormonal, obesidade, sedentarismo e hipertensão, entre outras. Caso a paciente apresente algum outro fator de risco, deve ser oferecido outros métodos que não sejam hormonais, como por exemplo o DIU de cobre e o próprio preservativo, que é um método muito eficaz quando usado da maneira correta.
Uma questão que também merece destaque é que a gravidez é uma fase em que a mulher está exposta a potencial risco trombogênico, sendo este risco considerado muitas vezes maior que o próprio uso da pílula. Então, cabe uma pergunta: Será que essa mulher que teve trombose com o uso da pílula também não teria trombose se engravidasse? De acordo com a FEBRASGO e órgãos de controle internacionais, o uso de anticoncepcional hormonal combinado é mais seguro que os potenciais riscos que pode causar, trazendo então mais benefícios do que os potenciais malefícios de seu uso.
É importante lembrar que a pílula não é uma vilã. Ela surgiu para ajudar as mulheres, principalmente nos dias de hoje em que estamos inseridas no mercado de trabalho e temos total liberdade para planejarmos o rumo que queremos para nossas vidas, principalmente na questão de quando ter filhos. Ajuda a planejarmos até uma ida à praia ou à piscina.
A pílula foi um marco na revolução sexual feminina e é indicada no tratamento de diversas doenças, como dismenorreia, endometriose, tensão pré-menstrual e anovulação crônica hiperandrogênica; portanto, ela existe para ajudar as mulheres e facilitar a vida. Não podemos encarar a pílula anticoncepcional como a nova inimiga dessa geração.