É a doença mais prevalente do sistema digestório. Está presente em pelo menos 25% da população adulta. Até 50% das consultas em gastroenterologia tem queixas relacionadas a ela. Diante dessa frequência voltamos a comentar sobre o assunto.
O retorno de conteúdo ácido para o esôfago é comum e ocorre diversas vezes ao dia, por curtos períodos de tempo, em todas as pessoas, e esse ácido é eliminado do esôfago rapidamente.
Às vezes a mucosa do esôfago está com a resistência diminuída ou o ácido retorna com maior intensidade ou por tempo maior que a mucosa pode resistir. O ácido pode ainda refluir até a garganta, ou causar sintomas pela simples irritação do esôfago. Nessas situações, o refluxo deixa de ser considerado normal e chama-se doença do refluxo gastroesofágico (DRGE).
O principal sintoma é a ardência ou queimação em algum ponto entre o epigástrio (“boca do estômago”) e o queixo, irradiando por trás do esterno (o “osso do peito”), a popular azia. Pode ocorrer também um aumento da salivação, que é um reflexo natural porque a deglutição dessa saliva alivia a queimação, como se fosse um antiácido natural. Podem ainda ocorrer sintomas atípicos, como dor ou dificuldade para engolir.
Alguns pacientes podem apresentar sintomas extradigestivos, relacionados ao aparelho respiratório, como faringites, otites de repetição, asma ou mesmo alterações gengivais e halitose (mau hálito). Não podemos deixar de citar aqueles que apresentam apenas dor torácica, muitas vezes confundida com sintomas cardíacos.
O diagnóstico é feito através de dados clínicos e de exames como a endoscopia digestiva alta (EDA) que visualiza a mucosa esofágica e coleta biópsias, se necessário. Em 25 a 50% dos pacientes portadores de DRGE não encontramos lesões de mucosa esofágica. Estes são portadores de esofagite não erosiva ou apresentam apenas sintomas extradigestivos.
Podem ser necessários outros exames, como a PHmetria (que mede a intensidade e o tempo de refluxo ácido) e a manometria esofágica (que avalia a motilidade esofágica e a pressão na porção inferior do esôfago).
A DRGE é considerada uma doença crônica. Assim, para um tratamento adequado, é necessário mudanças de comportamento, visando a parada dos sintomas e a prevenção de possíveis complicações.
O tratamento medicamentoso inicial é feito basicamente com medicamentos anti-secretores da classe dos inibidores da bomba de prótons, por um período que varia de 6 a 12 semanas. Pessoas que se mantêm assintomáticas sem medicação por no mínimo 6 meses, podem ser tratadas apenas quando surgirem sintomas. Os demais devem usar medicação indefinidamente.
O tratamento cirúrgico pode ser necessário em complicações da DRGE ou em jovens que necessitem de uso contínuo de medicação.
A cirurgia atualmente é realizada por laparoscopia, que permite recuperação rápida e retorno precoce às atividades diárias.