O Zika vírus é um flavivírus isolado do macaco Rhesus na floresta de Zika, em Uganda, em 1947. Ele é transmitido por várias espécies de mosquito Aedes, sendo o Aedes aegypiti um dos principais vetores. Após o primeiro caso de infecção humana ter sido relatado no Sudoeste Asiático e na África subsaariana, o Zika vírus foi responsável por vários surtos pelo mundo, como na Ilha da Micronésia em 2007, e epidemias na Polinésia Francesa e Ilha de Páscoa em 2013 e 2014. Em 2014 houve um aumento dramático de novos casos nas Américas. O Brasil foi o país mais afetado, sendo estimado de 440.000 a 1,3 milhões de casos de infecção pelo Zika vírus até dezembro de 2015.
O quadro clínico clássico da infecção lembra um caso de dengue ou chikunguya, e se manifesta por febre, dor de cabeça, artralgia, mialgia e manchas vermelhas pelo corpo. Porém, cerca de 80% dos infectados são assintomáticas. Embora a doença seja autolimitada, casos com manifestações neurológicas e Síndrome de Guillain Barré foram descritos na Polinésia Francesa e no Brasil durante a epidemia.
Recentes achados sugerem que casos de microcefalia no Nordeste têm uma possível associação com a infecção pelo Zika vírus. Já ficou comprovado que o vírus tem transmissão vertical, ou seja, de mãe para filho, porém ainda precisamos de mais dados que comprovem tal relação.
Um caso que ganhou a imprensa recentemente foi de uma senhora da Eslovênia que passou as primeiras semanas de gestação em Natal–RN e retornou para a Europa com 28 semanas. Ela apresentou sinais de infecção pelo Zika vírus por volta das 11-13 semanas. O ultrassom com 29 semanas já revelava sinais de microcefalia. Com 32 semanas o diagnóstico de microcefalia foi confirmado e ela solicitou o aborto, que lhe foi concedido em seu país de origem. O feto foi submetido a necrópsia e além dos achados macroscópicos de microcefalia, foi também encontrado o vírus em todo tecido neural. Este vírus é semelhante ao que circula no Brasil e na Micronésia Francesa, sendo mais uma evidência de que a microcefalia pode mesmo estar sendo causada pelo surto do Zika vírus.
Diante de todo esse drama, surgem teorias da conspiração de todos os tipos sobre lotes de vacina vencidos e etc.. No entanto não devemos basear nossa ciência em fatos que não são concretos ou que não têm evidência. Ciência é fato. Diante disso, devemos nos proteger. O CDC já orienta suas gestantes a não viajarem para áreas endêmicas. Nós, brasileiras, devemos usar repelentes, sempre. O Aedes é um mosquito de preferência diurna, e os repelentes com DEET, picaridina e IR3535 são seguros para serem usados durante a gestação. Use sempre roupas claras e camisa de manga longa e calça comprida. Cuidado com o criadouro do mosquito, evitando assim água parada. Faça um pré-natal de qualidade. Se houver uma suspeita de Zika vírus, tentar confirmar com exame de laboratório, e, se positivo, monitorar com exame de ultrassonografia seriado. Caso o ultrassom comprove microcefalia, a gestante deverá ser encaminhada ao Centro de Medicina Fetal para avaliar realização de aminiocentese que confirmaria a presença do vírus no líquido amniótico, embora esse resultado ainda seja controverso.
Num momento de crise, nós devemos cuidar de nossa própria saúde e nos cercar de informações reais, deixando as especulações de lado. Esclareça sempre suas dúvidas com seu médico.