A endometriose é uma doença ginecológica caracterizada pela presença de tecido endometrial glandular e estromal fora dos limites uterinos. Tem ocorrência estimada em até 15% de todas as mulheres no menacme, em cerca de 20% das pacientes com dor pélvica crônica e em até 60% daquelas com história de infertilidade (Chamié, 2010).
A endometriose pode comprometer praticamente qualquer tecido, no entanto, a grande maioria das lesões se localiza na escavação pélvica, em particular no peritônio e nos ovários. A doença é tipicamente polimórfica e multifocal, podendo se apresentar na forma de implantes superficiais nos ovários e no peritônio (endometriose superficial), cistos ovarianos situados na profundidade das gônadas (endometriomas) e lesões nodulares que infiltram a superfície peritoneal por mais de 5 mm de profundidade (endometriose profunda ou infiltrativa). (Chapron et al., 2003; Cornillie et al., 1990; Nilsolle&Donez, 1997). As estruturas mais acometidas pela doença profunda são, em ordem decrescente de frequência, a região retrocervical (ligamentos uterossacros), retossigmoide, vagina e bexiga (Jenkins et al., 1986).
O mapeamento das lesões é fundamental para a escolha da melhor opção terapêutica para o planejamento cirúrgico adequado, que em geral é feito por uma equipe multidisciplinar, e para a obtenção do consentimento das pacientes nas cirurgias mais radicais e de maior risco.
Na atualidade, inúmeros métodos de imagem têm sido utilizados objetivando o diagnóstico não invasivo da doença, sendo a Ultrassonografia Transvaginal (USTV) e a Ressonância Magnética as ferramentas mais utilizadas e de maior acurácia (Acromié, 2010).
A USTV é o método de escolha na avaliação inicial das pacientes com suspeita de endometriose e, em boa parte dos casos, pode ser considerada como a única modalidade de imagem necessária. Na investigação da endometriose profunda, alguns estudos têm demonstrado resultados promissores, com acurácia superior a 80%, especialmente no diagnóstico das lesões na região retrocervical e no retossigmoide, sobretudo quando realizada após utilização de preparo intestinal especifico, o que aumenta a sensibilidade do método (Abrão et al., 2007; Bazot et al., 2007). Adicionalmente, permite a caracterização da estratificação das camadas da parede intestinal, o que possibilita a determinação do grau de infiltração da mesma pelas lesões (Chamié&Blasbalg, 2010). A limpeza do conteúdo intestinal também contribui para a redução do tempo de exame e do desconforto da paciente, uma vez que as estruturas anatômicas são melhor identificadas.