Em relação às notícias veiculadas na impressa de que diferentes técnicas cirúrgicas, em especial a mastectomia poupadora de pele e/ ou mamilo, associadas à reconstrução mamária, podem prejudicar o tratamento de pacientes com câncer de mama, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) esclarece que:
■ Estudos baseados em informações de ressonância magnética obtidas no pós-operatório de pacientes submetidas à mastectomia, com o objetivo de avaliar a presença de tecido mamário residual, não reportaram casos de tumores encontrados nesta avaliação. Não trazem nenhuma novidade, já que somente uma amputação completa da mama, que inclui a remoção de toda a pele, se aproxima da radicalidade completa na remoção de todo o tecido. Estes procedimentos extremamente mutilantes foram muito utilizados no passado e abandonados nas décadas de 70-80, já que sua utilização não demonstrou reduzir a mortalidade por câncer de mama, quando comparados com tratamentos menos mutilantes.
■ Nenhuma diretriz nacional ou internacional recomenda que a ressonância magnética seja utilizada na rotina pós-operatória para este fim. Não existe a confirmação de que os achados sejam realmente de tecido mamário, podendo ser sequelas pós-operatórias, já que muitas ressonâncias foram realizadas de forma precoce, fora do período mínimo ideal. Em nenhum momento os achados foram correlacionados com o risco real de recorrências mamárias. A ressonância mamária é um instrumento diagnóstico importantíssimo quando bem indicado e aplicado de forma racional.
■ As conclusões utilizadas na mídia, afirmando que estes achados poderiam ser considerados um risco, e que determinado estudo demonstra que profissionais possam estar priorizando a estética ao invés do tratamento oncológico, são absolutamente inapropriadas e sem demonstração de qualquer veracidade científica. Não há uma comparação entre a técnica utilizada por cada profissional, os resultados obtidos e a correlação de recorrências de acordo com o profissional que executou o procedimento. A Sociedade Brasileira de Mastologia estimula a pesquisa e a análise crítica de resultados no meio acadêmico e científico. Gerar hipóteses de forma alarmante na mídia é considerado pela SBM inadequado.
■ Estas suposições ignoram a complexidade do tratamento de câncer de mama que se apresenta de diferentes formas e com comportamentos biológicos distintos, cujo manejo não envolve apenas a cirurgia, mas um adequado diagnóstico com uso de métodos de imagem de forma racional. Uma patologia adequada e um tratamento sistêmico de acordo com cada tipo tumoral, incluindo a possibilidade de uso de quimioterapia, hormonioterapia, terapia alvo, imunoterapia e radioterapia. Estas decisões são complexas, tomadas a partir de discussões multidisciplinares das quais cada terapia pode acrescentar benefícios decisivos. A associação de diferentes estratégias e terapias melhora de forma significativa as chances de cura e reduzem substancialmente a necessidade de procedimentos mutilantes. Atribuir apenas ao tipo de cirurgia o desejo do controle do câncer de mama é um retrocesso à era das cirurgias mutilantes, que se demonstraram, desde a década de 80, não serem suficientes para o controle da maioria dos casos de câncer de mama diagnosticados no Brasil e no mundo.
■ Houve um avanço significativo nas técnicas de cirurgia oncológica e reconstrução mamária em todo o mundo, com mastologistas dedicados após longo treinamento. O Brasil tem sido um dos grandes líderes desta evolução. Graças a isto, milhares de mulheres no mundo todo têm utilizado este progresso tanto em procedimentos profiláticos quando se trata de alto risco, como foi o caso da Angelina Jolie, quanto terapêutico, como é o caso de tantas outras mulheres. Questionar estes avanços com base em estudos não desenhados para este fim também não é pertinente para a comunidade científica e acadêmica.
■ A Sociedade Brasileira de Mastologia, junto com as demais sociedades afins, continuará empenhada na busca de avanços significativos que reduzam a mutilação, melhorem a qualidade de vida e tragam resultados positivos em termos de aumento de chance de cura e maior segurança para as pacientes. Manifestações como as observadas recentemente devem apenas estimular os mastologistas e especialistas brasileiros comprometidos com melhores resultados a continuarem sua busca incessante para que o progresso da ciência seja transformado em benefício e oferecido para as pessoas, principalmente as mais necessitadas.