Cerca de 80% dos motivos que levam os pacientes a procurar um médico estão relacionados a algum tipo de dor. Boa parte das queixas são de dores crônicas, ou seja, aquelas que se repetem com frequência ou que simplesmente não cessam. Entre elas: enxaquecas, lombalgias, as lesões por esforços repetitivos (LER), as artroses, patologias como o Mal de Parkinson (que leva a movimentos involuntários do corpo) e dores decorrentes de sequelas de acidentes.
O que é dor crônica?
Dr. Douglas Domingues - A pessoa que sente dor por mais de 3 meses seguidos apresenta, por definição, dor crônica. Na maioria desses casos já existem mecanismos envolvidos na percepção da dor que impedem a resolução do problema apenas pela eliminação do evento que desencadeou a dor inicialmente. Por exemplo, uma pessoa que tem hérnia de disco lombar, não fez o tratamento correto e sofre com a dor há mais de 3 meses, dificilmente resolverá o seu problema apenas com o tratamento convencional. Isso acontece por um mecanismo de sensibilização do sistema nervoso central (SNC) e aparecimento da dor neuropática: concomitante ao estímulo doloroso é estabelecida uma geração de sinal doloroso dentro do SNC, que acaba se tornando independente com o tempo e a continuidade do evento inicial. Isso acontece por um aumento da função dos circuitos neuronais que acabam criando uma “memória da dor”, ou seja, as vias nervosas se adaptam à inflamação persistente e à lesão neural. De uma forma semelhante a quando fazemos alguma coisa várias vezes e começamos a fazê-la sem perceber. Por exemplo, andar ou dirigir um carro fica fácil e automático porque o nosso SNC se adaptou e criou um circuito neuronal rápido para tais atividades. Um circuito neuronal criado para a percepção de dor é um grande problema...
Parece que a minha dor lombar está piorando com o tempo. Agora, só de encostar na região eu já sinto dor. Alguma coisa deve estar piorando na minha coluna.
Dr. Douglas Domingues - Sem dúvida, quando ocorre uma alteração dos sintomas deve-se investigar se há presença de uma lesão que esteja piorando o problema. No entanto, a percepção da dor está sujeita a complexas influências positivas e negativas e a presença de dor por muito tempo acaba por diminuir o limiar da mesma, aumentar a duração e intensidade do seu sinal e permitir que estímulos geralmente inocentes também gerem dor.
O que é possível fazer para evitar essa dor neuropática?
Dr. Douglas Domingues - O mais importante é tratar da melhor forma e o mais rápido possível o evento desencadeador da dor, pois muitas vezes pode-se prevenir a transformação do problema em dor crônica. Alguns pacientes são mais suscetíveis a desenvolver a dor neuropática por apresentarem alguma condição clínica que já tenha sensibilizado o SNC. Nestes casos, vale a pena considerar o tratamento com medicamentos específicos desde o início do quadro.
Dores crônicas podem ter diversas origens e causas. Por isso, demandam um bom diagnóstico clínico e tratamento individualizado.